No contexto da celebração dos 30 anos do São Paulo Fashion Week 2025, dois nomes emblemáticos da moda brasileira ganharam destaque.
O desfile de Alexandre Herchcovitch (marca Herchcovitch; Alexandre) apresentou uma coleção que equilibra elegância técnica e sutileza refinada — vestidos de cetim duchesse com torções no tecido, capas de chuva floridas e jaquetas de couro, peças que atravessam o tapete vermelho e o cotidiano ao mesmo tempo. 
Já o desfile de Amir Slama trouxe a sua assinatura de moda praia/resort impregnada de brasilidade, este ano com um olhar ampliado para a natureza e para o lifestyle tropical, reafirmando seu legado e sua capacidade de diálogo contemporâneo.

- Alexandre Herchcovitch

No caso de Alexandre Herchcovitch, a cobertura oficial da SPFW traz duas edições distintas em 2025: uma em abril (N59) e outra em outubro (N60) — vamos focar na de outubro que marca a coleção verão/outono 2026. ELLE Brasil+2São Paulo Fashion Week In.pactos+2
O desfile em 18 de outubro de 2025, na Sala do Conservatório, Praça das Artes, apresentou uma proposta de “movimento e multiplicidade”: as modelos entravam em duplas por portas opostas, gerando fluidez e ambiência dinâmica. ELLE Brasil
Na coleção ele mostrou tanta roupa de tapete-vermelho quanto peças casuais refinadas. Por exemplo: vestidos alongados em cetim duchesse com pences, torções no tecido ou zíperes laterais — mesmo no básico ele imprime técnica. Também aparecem capas de chuva com estampa floral, jaquetas de couro, camisas “anarruga” com recortes geométricos. São Paulo Fashion Week In.pactos
Em relação à edição de abril (N59): o tema era a cultura clubber + anos 70 e 90, luz negra nos tecidos, bordados com cristais Swarovski, veludo cotelê, xadrez lenhador e neoprene ou látex (inclusive material extraído da Amazônia). São Paulo Fashion Week In.pactos
Comentário:
Herchcovitch está em um momento de reafirmação criativa: ele reapresenta sua marca (Herchcovitch;Alexandre) e mesmo suas peças “básicas” têm refinamento elevado — não há complacência com o óbvio. A estética é híbrida: de gala à rua, do fino ao utilitário, do luxuoso ao culturalmente engajado (material amazônico, referências clubber).
O que chama atenção é a construção: vestidos sem costuras aparentes, bermudas com barras puxadas para cima revelando forro colorido, sobreposições que funcionam como peças únicas estruturadas. Isso reforça sua reputação técnica e experimental. A ambientação do desfile — movimento, múltiplas entradas — complementa a ideia de moda como experiência.
Para o mercado, é uma coleção que reafirma o nome Herchcovitch como vanguarda da moda brasileira: não apenas por estética, mas por discurso e execução.

- Amir Slama

No evento de 2025, Amir Slama retornou à cena da SPFW para celebrar 35 anos de carreira e o marco dos 30 anos do evento, com a coleção intitulada “Fashion for Forests”. São Paulo Fashion Week In.pactos
O nome da coleção já entrega parte da proposta: é uma junção entre a elegância praia / resort à brasileira que ele domina tão bem — lembrando sua marca Rosa Chá — e um olhar voltado para a natureza, comunidades indígenas e reflorestamento da Amazônia, em parceria com a empresária Catarina Bellino e a ativista Txai Suruí. São Paulo Fashion Week In.pactos
Visualmente, a coleção começa com uma série em P&B (preto e branco) com elementos de lingerie: rendas, armações, laços, camisolas e corsets. Em seguida, a paleta aprofunda-se em marrons e beges — como um maiô escamado de tecido, cintos com moedas — e depois avança para blocos de cores primárias com desenhos que remetem ao artista Glauco Rodrigues (pop Brasil dos anos 70). São Paulo Fashion Week In.pactos
A linguagem é múltipla: há o sexy — nos recortes, transparências, camisetas “molhadas” contorcidas –, o esportivo — peças lisas em tons néon –, e o rebuscado — alcinhas com pedras, bordados de miçangas vermelhas. Tudo isso sem cair em nostalgia, segundo a crítica. São Paulo Fashion Week In.pactos
Comentário:
Amir Slama mostra maturidade ao fundir estética de moda praia — sua especialidade — com uma abordagem contemporânea e engajada. O tema “Florestas” traz uma camada simbólica importante e, ao mesmo tempo, ele não abandona o glamour da sua origem. A transição entre os blocos de cor é fluida, mantendo coerência visual. O uso de materiais “escamados”, ou de efeito similar, bem como a inserção de acessórios ricos (pedras, miçangas) demonstram que ele ainda aposta no luxo, porém com consciência. A cartela – do P&B ao néon – confirma sua versatilidade.
Para o mercado, isso sinaliza que a marca continua relevante e capaz de dialogar com tendências de sustentabilidade/tema – ainda que de maneira mais conceitual do que puramente utilitária.